Servo Servorum Dei: A Igreja foi buscar no Peru um estadunidense, missionário, “bergoliano” e moderado

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Papa Leão XIV

Por Otávio de Jesus

A escolha do cardeal Robert Francis Prevost como Papa Leão XIV não é apenas uma surpresa, mas um gesto de sabedoria e equilíbrio, mostrando a preocupação em encontrar um nome de consenso e unidade num momento delicado para a Santa Igreja Católica. Nascido nos Estados Unidos, formado entre Roma e Chicago, missionário de alma latina formada por décadas de atuação no Peru, homem próximo de Francisco, mas sem ser um mero “Francisco II”, Leão XIV representa o que politicamente chamaríamos de “nome do centrão”, um consenso num conclave que parecia fadado ao impasse. Particularmente eu não esperava que a fumaça branca aparecesse hoje na chaminé da Capela Sistina.

Nascido nos Estados Unidos, formado entre Roma e Chicago, missionário durante décadas no Peru, homem próximo de Francisco, mas sem ser uma mera continuidade, Leão XIV representa uma escolha de consenso, num conclave que parecia fadado ao impasse. Prevost não figurava nas listas mais famosas dos “papabili” que a imprensa normalmente especula. E isso diz muito.

Sua eleição depois de apenas cinco votações revela que os cardeais não buscaram um tribuno nem um técnico de aparato, mas um pastor confiável. Tímido, discreto, claramente low profile Como se diz hoje, Leão XIV transmite serenidade, que é uma virtude escassa numa Igreja ferida por polarizações doutrinárias e cismas nada silenciosos (cito os bispos alemães que formularam e publicaram instruções para a benção de casais homossexuais durante o período de Sé Vacante). A Igreja optou por uma figura que escuta mais do que impõe, e talvez seja exatamente isso que ela mais precisa agora.

Em sua primeira aparição na Loggia Bendizioni (a sacada na qual o papa sempre aparece), o novo Papa optou por usar todos os paramentos tradicionais: a mozzetta, a estola, o anel do Pescador, a cruz papal — diferentemente de Francisco em 2013, que surgiu com um visual quase franciscano. Mas não se trata aqui de uma volta ao cerimonial por vaidade, e sim de um gesto simbólico: Leão XIV quis marcar respeito à tradição sem sinalizar ruptura. É o modo silencioso com que esse Papa começa a tecer pontes entre mundos eclesiais que pareciam irreconciliáveis, muito mais adepto da hermenêutica da continuidade, tão falada pelo Papa Bento XVI

Sua escolha do nome “Leão” é, a meu ver, um dos sinais mais fortes de que ele pretende conduzir a barca de Pedro por águas de conciliação. Escolher nomes como Pio, Bento ou João seria, inevitavelmente, lido como uma tomada de partido (Lembrem de João XXIII, que a escolha espantou, visto que João XXII não foi dos melhores pontífices) — ora agradando aos setores conservadores, ora acenando aos mais progressistas. “Leão”, por outro lado, é um nome de peso histórico, mas sem carga ideológica no atual contexto, pois vem de uma época não tão divida como a atual. Evoca firmeza, mas também continuidade. Agrada, ou pelo menos não ofende, nenhum dos lados. É um nome-pontífice, não um nome de trincheira.

Leão XIV herda uma Igreja tensa, com blocos visivelmente organizados: os herdeiros espirituais de João Paulo II e Bento XVI, que pedem doutrina firme; os discípulos de Francisco, que querem continuidade na escuta das periferias; e uma massa de bispos e cardeais flutuantes, muitas vezes mais preocupados com a geopolítica vaticana, ou pior, com um progressismo quase apostata, do que com a missão apostólica. A habilidade do novo Papa em equilibrar essas forças pode definir se seu pontificado será de transição ou de transformação.

Por ora, ele opta por um tom pastoral, sereno, e não programático. Caminhar com todos, sem se deixar capturar por nenhum grupo, num discurso e missão de paz e unidade, parece ser sua linha. Se conseguir manter essa neutralidade ativa, poderá ser o Papa da reconciliação. Um servo dos servos de Deus, não de uma ideologia ou facção. E isso, em tempos de ruído e confusão, é um sinal profético.

Otávio de Jesus, Psicoterapeuta, Bacharel em Filosofia, Católico e estudioso pessoal da História e hierarquia da Igreja.

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